eleitos. É o que os Discípulos pensavam ao verem outros usando o nome de Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue” (Evangelho, v. 38). A atitude de Jesus é aquela de acalmar o coração e de “explicar” a situação: “Quem não é contra nós, é a nosso favor” (Evangelho, 39). Esta frase é confirmada no caso de Moisés (1ª Leitura): o espírito invocado sobre os seus ajudantes, desce também sobre outros. Ninguém pode impedir a ação livre do espírito. Josué quer fazê-lo, mas Moisés reconhece a importância da docilidade ao Espírito: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito” (1ª Leitura, v. 29). Na segunda parte do texto do Evangelho, ao comentar aquele caso trazido a Jesus por João, o Mestre apresenta uma série de instruções sobre a fidelidade do discípulo, que deve ser sempre pronto a eliminar de sua vida tudo aquilo que o impede de ser um verdadeiro seguidor de Jesus. Neste mesmo sentido é que Tiago escreve a sua carta (2ª Leitura) com algumas advertências sobre as coisas que não nos fazem ser testemunhas do amor de Jesus. MEDITAÇÃO Na continuidade do capítulo 9 do Evangelho de Marcos, vemos que andando com Jesus, nos caminhos da Galileia e de Cafarnaum, os Discípulos não haviam somente discutido quem era o maior dentre eles (Evangelho de domingo passado), mas também haviam proibido alguns de falarem em nome de Jesus, já que estes não eram “do nosso grupo” (v. 38). O Mestre, tal como sempre o fez, continua e com paciência, a “formar” seus discípulos na lógica do Reino. A cada momento e em cada nova situação, há um novo ensinamento que precisa ser “absorvido” por aqueles que o seguem, já que o ideal de Jesus muitas vezes vai no caminho contrário daquele do comum da sociedade. A comunidade cristã para Jesus é a comunidade do Reino, por isso deve ser uma comunidade aberta, acolhedora, tolerante, capaz de aceitar como sinais de Deus todos os gestos libertadores. A comunidade que Jesus quer propor aos seus Discípulos é aquela que põe acima de seus interesses e da sua referência, a preocupação com o bem e a justiça de todos. Uma comunidade que não é autorreferencial (como nos diz o Papa Francisco), mas uma comunidade que realiza a sua missão de forma plena e comprometida, e que é aberta a unir-se a outros na missão e no serviço, tendo como referência “melhorar as condições de vida para as pessoas”. Aqueles a quem Jesus orienta os Discípulos de não proibirem de usarem seu nome, são pessoas que, no olhar de Jesus, querem o bem e não o mal (cf. Evangelho, v. 40). Pois este é um critério evidente para Jesus e é por isso que Ele dá esta orientação aos seus: se alguém usa o seu nome para fazer o bem às pessoas e não a si mesmo, esta pessoa não é contra a proposta do Reino, mas é alguém em quem Deus inspirou a sua vontade de promover a vida para todos. Usar o nome de Deus para dizer, “Deus faz somente aquilo que nós queremos que ele faça e quando nós o quisermos” é um grande erro e é uma das atitudes que pode “escandalizar os pequenos que creem”, como nos diz o Evangelho de hoje (v. 42). Certamente a centralidade da mensagem da Liturgia da Palavra de hoje está no Evangelho e principalmente na resposta que Jesus dá aos discípulos acerca de como eles devem ser testemunhas abertas à graça de Deus. Aí também está o nosso desafio: construir comunidades de fé sem arrogância, sem presunção de posse exclusiva do bem e da verdade. Comunidades abertas à acolhida e capazes de estimular todos os que atuam em favor dos irmãos. Comunidades que se desafiam a eliminar da própria vida, as atitudes que não correspondem com a proposta do Reino, seja na sua maneira de agir (“cortar a mão”, v. 43), seja no seu modo de caminhar (“cortar o pé”, v. 45) e também no seu jeito de ver e julgar as coisas (“cortar o olho”, v. 47). Neste Domingo dedicado à Bíblia, temos a certeza de que Deus concede seus dons com liberdade e sempre em função do bem. A Palavra de Deus é vida plena para toda a comunidade aberta ao espírito que liberta e promove. Acolhamos sempre a Palavra em nosso meio e assim “saberemos por onde andar”. ORAÇÃO Salmo 18: A lei do Senhor Deus é perfeita, conforto para a alma! O testemunho do Senhor é fiel, sabedoria dos humildes. AGIR Procure sempre escutar a palavra de Deus com um coração aberto para saber o que o Senhor quer lhe dizer. Pe. Adilson Schio, ms
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quem é o maior entre eles. Enquanto Jesus anuncia que se fará servo até a cruz, os discípulos desejam vantagens. Aqui temos uma daquelas atitudes negativas que Tiago fala na 2ª Leitura que suscitam guerras, invejas, divisão: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más” (2ª Leitura 3,16). A este tipo de atitudes o Apóstolo apresenta a sabedoria que vem do alto como uma semente de paz: “a sabedoria do alto é antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento” (3,17). Esta ideia de uma vida com atitudes diferentes vem confirmada pela afirmação da 1ª Leitura: “de fato, o justo é filho de Deus e Deus o defenderá” (v. 18). MEDITAÇÃO É muito interessante perceber no Evangelho de Marcos que Jesus se dedica à formação daqueles que o seguem. Seus discípulos recebem uma atenção especial do Mestre. O que Jesus faz é mostrar a eles quais são as verdadeiras atitudes de um discípulo. O jeito de Jesus fazer isso tem seu conteúdo central na revelação do caminho da cruz, da entrega, da doação e não da busca de poder ou de merecimentos. Ao falar de si, Jesus indica a quem o segue que o mesmo caminho, as mesmas atitudes e os mesmos pensamentos Dele devem estar presentes naqueles que acreditam que a sua missão vem do Pai. E se de início esta era uma lição difícil para os Apóstolos compreenderem, ela foi uma prática evidente quando eles se encontraram diante do compromisso de continuar a anunciar o Evangelho do Reino. Pode parecer fácil, mas para eles foi difícil aplicar na própria vida a frase do Mestre: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Evangelho, v. 35). A grandeza do cristianismo, em todos os tempos da história, sempre foi o serviço aos mais necessitados e pequenos. Jesus propõe um caminho de salvação que é sinal profético de um amor preferencial de Deus por aqueles que têm mais espaço em si e em sua vida para Ele, do que para as coisas que nos afastam Dele. A palavra de Jesus aos discípulos é uma mensagem clara: tudo o que nos distancia dos mais pequenos, nos afasta também de Deus. A Igreja e seus fiéis, por todos os tempos, assumiu esta missão como o caminho que o Mestre havia indicado. Os primeiros cristãos viveram um cristianismo de martírio e de testemunho. Seguindo o exemplo dos Apóstolos eles aprofundavam os ensinamentos de Jesus e viviam de acordo com aquilo que acreditavam. Esta prática de compromisso pelo Reino deve ser também a nossa “meta religiosa”, isto é, precisamos viver uma religião comprometida com o anúncio de Jesus. Se o querer ter poder por vezes pode nos surpreender como algo que nos afasta do caminho de Jesus, é preciso então rever o nosso jeito de ser e “re-escutar” as palavras do Mestre que no Evangelho de hoje são um convite para que vivamos o amor na plenitude da gratuidade. A nossa vida, para ser verdadeiramente cristã, deve ter outras atitudes do que aquelas que são comuns no mundo e na vida dos que “são do mundo”. Mas porque Jesus vem trazer uma proposta tão diferente? Simplesmente porque sem amor nossas atitudes não passam de simples tarefas que qualquer um pode fazer. É pelo amor que nos assemelhamos ao Pai e o Pai é sempre misericordioso e acolhedor. A grandeza de Jesus e de seus discípulos não está em ser o primeiro ou o mais importante, em se ter um poder transitório ou passageiro, mas em cumprir a vontade de Deus e servir os irmãos, sobretudo nos pequenos e humildes. Hoje Jesus nos diz no Evangelho que é pela prática do amor e da caridade, que se concretiza na acolhida e no abraço, como se todos fossem tal como uma criança (cf. v. 36), é por esta prática que nos vem o poder de chegar ao coração das pessoas e de sentirmos que ali, naquele coração, está o próprio Jesus, presença viva do Pai. Com Jesus e em Jesus, é possível amar a todos de verdade. ORAÇÃO Salmo 53: Quero ofertar-vos o meu sacrifício, de coração e com muita alegria; quero louvar, ó Senhor, vosso nome, quero cantar vosso nome que é bom! AGIR Procure viver mais profundamente a humildade e o serviço aos outros. Pe. Adilson Schio, ms
também a quem se coloca no seu seguimento: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Evangelho, v. 34). Com Pedro, somos também convidados a professar a nossa fé no Cristo, Messias do Pai (cf. Evangelho, v. 29). MEDITAÇÃO O Evangelho de hoje nos abre para a segunda parte dos escritos de Marcos. Se na primeira parte este Evangelista nos quis mostrar que Jesus é o Messias que vem para proclamar o Reino de Deus, nesta segunda parte ele nos quer fazer ver que ele é o “Filho de Deus” que vem para doar a sua vida como dom de amor. Na história narrada hoje, vemos o jeito catequético de Marcos nos propor que Jesus é diferente no seu jeito de ser, e é a grande novidade de Deus para o mundo dos homens. O primeiro contraste que revela esta mudança da ação de Deus é descrito a partir das duas perguntas de Jesus e que Marcos apresenta três respostas, cada uma com sua verdade, mas diferente na perspectiva que apresentam: As perguntas: “Quem dizem os homens que eu sou?” (v. 27) e, “Vos quem dizeis que eu sou?” (v. 29). As respostas: A primeira é aquela onde os discípulos reportam a Jesus o que dizem os homens: “João Batista, Elias ou ainda um dos profetas...” (v. 28). O conteúdo desta resposta revela que alguns olham para Jesus como uma continuidade do passado. Parece serem incapazes de perceber a novidade e a originalidade de Jesus. Estas pessoas identificam Jesus simplesmente como um homem escolhido por Deus, enviado ao mundo com uma missão, tal como aqueles do Antigo Testamento. Portanto, na perspectiva comum, Jesus é apenas um homem que escutou os apelos de Deus. Esta visão é importante, mas não é suficiente. Surge então a resposta dos Apóstolos que, condensada na afirmação de Pedro, afirma que ele é o Messias (o Cristo), isto é, o libertador que Israel esperava. Alguém enviado para libertar o povo e oferecer a salvação definitiva. Esta resposta também tem seu conteúdo de verdade, mas pode servir para equívocos já que a libertação do povo era esperada de diversas maneiras, por grupos muito diversos. Esta é a razão que faz Jesus dizer aos discípulos de não falarem disso a ninguém. A visão da comunidade dos discípulos estava ainda muito centrara numa lógica gloriosa e vencedora. Isto é, na lógica do mundo e não na vitória que pode estar na cruz e na doação total da vida. Surge então, no texto do Evangelho, a terceira resposta que é a revelação de quem é Jesus por ele mesmo. Jesus mostra que os Planos de Deus não passam pelos triunfos humanos, mas pela doação da vida por amor a Deus e aos outros, até as últimas consequências. A cruz é a expressão mais radical desse amor que é exigente e que é sempre na direção da fidelidade e da renúncia. Mas o que vem a ser esta renúncia a si mesmo que Marcos diz que Jesus apresenta como atitude para seus discípulos? Nos seus versículos, o Evangelho de hoje não nos dá uma resposta, mas no exemplo de Jesus podemos dizer que significa renunciar ao egoísmo e à autossuficiência para fazer da vida um dom. O cristão não pode viver fechado em si próprio, preocupado em concretizar somente os seus projetos, mas deve fazer de sua vida um dom generoso aos irmãos. Só assim ele poderá ser discípulos de Jesus e integrar a comunidade do Reino. Aqui está a diferença de Jesus com relação àqueles que representam a continuidade do passado: Jesus propõe uma comunidade nova, uma comunidade de vida, a comunidade do Reino, a comunidade daqueles que assumem a cruz por amor e pela fidelidade radical aos planos de amor do Pai. Assim a vida será sempre na direção do Deus verdadeiro. O Deus, como nos diz o Profeta Isaías, que é o “auxiliador” (1ª Leitura, v. 7). ORAÇÃO Salmo 114: Eu amo o Senhor, porque ouve o grito da minha oração. Ele inclinou para mim o seu ouvido, no dia em que eu o invoquei. AGIR Nesta semana, procure ler outras passagens dos Evangelhos e após a leitura pergunte a si mesmo: quem é Jesus para mim? Pe. Adilson Schio, ms
exílio, mas que nos abre a compreensão da promessa da presença definitiva de Deus no meio de seu povo, na plenitude da vida de Jesus. Justamente para dizer dessa realidade é que se torna significativo o milagre narrado no Evangelho: Marcos fala de um surdo-mudo que vive em território pagão (“Região da Decápole”). Se ali ninguém dava atenção ao tal homem, Jesus o chama para perto de si e para longe de todos, demonstrando a sua especial atenção àquela pessoa e a ela, somente a ela, demonstra o seu querer: vê-lo curado. O Apóstolo Tiago (2ª Leitura) nos exorta a sermos verdadeiros cristãos: assim como Deus não tem preferência por este ou por aquele, assim também devemos ser nós na comunidade de fé. MEDITAÇÃO O contexto do Evangelho deste domingo nos ajuda a entender melhor a sua mensagem. Jesus está ainda “em visita” à Galileia. Sente que aumentam as reações negativas a Si e ao seu Projeto, apesar de que por onde passa vai deixando marcas de um novo anúncio de vida e de graça. A discussão com os fariseus e doutores da lei (Evangelho de domingo passado) serve para Marcos dizer que esta foi a última situação que fez Jesus abandonar a Galileia e andar então em “território pagão”. Jesus está entre aqueles que não conhecem o Deus do Antigo Testamento e é a esses que destinará a sua palavra e as suas ações. Notemos que Marcos reforça muito bem esta ideia, nominando as cidades por onde Jesus foi passando. Isso nos recorda a afirmação que diz: “Ele veio aos seus, mas os seus não o aceitaram” (cf. Jo 1,11). É ali que Jesus anunciará, como sempre o fez em todo lugar, o Projeto do Reino de Deus. Ele apresenta palavras e gestos, isto é, Ele tem sempre algo a dizer e demonstra que Ele mesmo vive aquilo que anuncia. Jesus se faz testemunho da bondade misericordiosa de Deus. Os gestos fazem suas palavras serem carregadas de credibilidade e as suas palavras são confirmadas pelos seus gestos. Marcos descreve com grande abundância de pormenores como Jesus curou aquele surdo-mudo e lhe deu a possibilidade de se comunicar, de se expressar, de dizer que ele existe e que tem algo a dizer ao mundo. A ação de Jesus é sempre assim, faz com que aqueles a quem a vida é negada, ou que são colocados à margem de tudo e de todos, recuperem aqui neste mundo o valor que eles possuem perante Deus. Lendo toda a cena e refletindo na sequência dos fatos contados por Marcos podemos ver que a sua intenção vai além de querer contar uma simples cura de um homem que não tinha valor por possuir uma doença que o impedia de comunicar-se. O texto do Evangelho deste domingo é uma verdadeira catequese (ensinamento) sobre a missão de Jesus e a grandeza do seu anúncio para fazer nascer em nós uma nova pessoa. Há duas forças que Jesus usa para promover à vida daquele homem: a força e a profundidade da sua palavra (“Abre-te”), que Marcos faz questão de registrar na própria língua de Jesus (“Efatá”); e a força de seus gestos que promovem e acolhem para “curar”: “Colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele” (v. 33). O encontro com Jesus, recordemos que em terras pagãs, transforma radicalmente a vida daquele homem. Jesus abre-lhe para a vida. Agora ele será capaz de escutar, falar, partilhar, entrar em comunhão com as outras pessoas, dizer do seu pensamento e das suas reações diante do mundo e dos outros. Aquilo que o diminuía agora não existe mais, passou, ele pode se sentir imerso em uma nova vida. E, segundo Marcos, uma das suas primeiras palavras é justamente um testemunho de reconhecimento: “Ele [Jesus], faz bem todas as coisas” (v. 37). A liturgia deste 23º Domingo do Tempo Comum nos apresenta na prática de Jesus, mais uma verdade de Deus: Ele está sempre comprometido com a vida e a felicidade de cada um de nós, por isso nos liberta de toda a nossa surdez a fim de ouvirmos e praticarmos a sua Palavra. A missão de Jesus é a de abrir nossos ouvidos e nossos corações ao Projeto do Reino. Para bem vivermos a mensagem da Liturgia da Palavra deste domingo, devemos recordar constantemente este versículo do Profeta Isaías: “Dizei às pessoas... Deus vem para nos salvar” (1ª Leitura, v. 4). ORAÇÃO Salmo 145: Bendize, ó minha alma ao Senhor. Bendirei ao Senhor por toda a minha vida! AGIR Peça a graça de você ter sempre seus ouvidos e seu coração aberto aos irmãos. Pe. Adilson Schio, ms
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Pe. Adilson Schio Ms
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