O GRITO DA VIDA
pensamento de Deus, revelado nos gestos e nas palavras de Jesus e presente em nós pela ação do Espírito Santo, em outras palavras, aqueles que fazem do seu próprio egoísmo a sua regra, não vivem segundo o Espírito que revela sempre a vida. Ezequiel, o profeta (Primeira Leitura), procura alimentar a esperança transmitindo essa grande verdade, válida também para os nossos dias: Deus não abandonou seu povo, o Espírito sopra e a vida reaparece. Segundo o profeta Deus transforma a morte em vida, o desespero em esperança, a escravidão em libertação. MEDITAÇÃO No Evangelho temos três cenas bem distintas, porém sempre na mesma história: a primeira cena, no “outro lado do Rio Jordão”, se diz que Lázaro está doente, dorme e está morto. Temos aqui um crescente: da doença ao sono, do sono à morte real. Mas Lázaro é “aquele que ama e que é amado”, o significado de seu nome é, literalmente, “Deus ajudou”. Jesus é ligado a ele por um profundo sentimento de amizade (ágape). Por amá-lo com tal amor Jesus, confiando no Pai, afronta com coragem o risco da morte do amigo. Na segunda cena, na “vizinhança de Betânia”, nome que significa “lugar dos pobres”, Jesus é criticado pelas duas irmãs de Lázaro por seu “atraso” para ver e curar o irmão. Maria está em casa e chora. Marta vai ao encontro de Jesus e suas lágrimas tocam o seu coração. É muito significativo este encontro pois Marta diz da sua confiança em Jesus: “se você estivesse aqui ele não teria morrido” e Jesus lhe pede fé na ressurreição. Marta então faz uma profunda profissão de fé em Jesus, Messias e Filho de Deus. Interessante perceber que no Evangelho de João a primeira pessoa a professar a fé no Messias, enviado de Deus, é justamente esta mulher de nome Marta. Vem então a terceira cena, “Jesus diante do túmulo de Lázaro”. Uma oração chama o amigo para a vida: “Pai, eu te dou graças porque me ouviste, eu sei que me escutas... Lázaro, vem para fora” e a cena termina com outra frase de Jesus que significa a libertação plena para a vida: “Desatai-o e deixai-o caminhar.” A ressurreição de Lázaro não é somente um sinal da ressurreição futura, mas é também um dom da ação de Deus para os que creem. Chegamos ao quinto domingo da quaresma com esta certeza de vida que vem da própria afirmação de Jesus: “Eu sou a ressureição e a vida”. A Igreja nos ensina que esta vida vem de Deus, como dom, e nos é dada no Batismo, é renovada no Sacramento da Reconciliação e é alimentada na Eucaristia, alimento de fé de toda a comunidade cristã que crê na força de vida que vem de Jesus. É justamente este caminho de fé que Jesus, no Evangelho de hoje, apresenta a Marta e aos seus discípulos pois crer, segundo Ele mesmo diz, não significa somente aceitar aquilo que ele anuncia, mas ter uma confiança plena nele e naquilo que Deus faz através dele. Aquilo que não parece possível a nós, é possível a Deus. Este é o convite de hoje: É preciso ter confiança na palavra de Jesus. O Evangelho nos chama a confiar no amor de Jesus e na ação de Deus. Que a nossa fé seja plena naquele que é a “ressurreição e a vida”. Em três palavras, este Evangelho fala de um encontro com Jesus, de um diálogo de confiança e de uma profissão de fé na vida que renasce plena e libertada. ORAÇÃO Rezemos como Jesus rezou diante do amigo Lázaro: “Pai, eu te dou graças porque Tu sempre me ouves.” AGIR Procure seus amigos e diga a eles que eles representam muito para você. Pe. Adilson Schio, ms
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“E TU O QUE DIZES DAQUELE QUE TE ABRIU OS OLHOS?”
a escolha dos seus. Deus diz a Samuel: “Eu não julgo segundo os critérios do homem: o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração”. E assim Davi foi o escolhido e o ungido. A escolha de Deus sempre é para nos fazer “Filhos”, na mesma dimensão que São Paulo é capaz de escrever na sua Carta. Os versículos 8 e 9 da Segunda Leitura nos dizem: “vivei como filhos da luz, e o fruto da luz chama-se: bondade, justiça e verdade”. Só aqui, nestes dois versículos, poderíamos meditar muitas e muitas horas... MEDITAÇÃO “É um Profeta!”. A resposta simples, porém consciente, do cego curado por Jesus, ao ser perguntado pelos fariseus sobre o que ele diria daquele que o havia curado, contem em si um testemunho de pertença a Jesus que é verdadeiramente o testemunho de alguém que se fez discípulo. Reconhecer a profecia de Jesus é reconhecê-lo não só pelo ato de cura que Ele havia feito, mas também pela força da sua palavra e pela esperança que Ele transmitia com seus gestos. Assim é verdadeiramente um profeta: firme na palavra sem jamais perder a ternura dos gestos fraternos. João, no seu Evangelho, costuma tomar um fato acontecido com Jesus para daí dar início à reflexão de um tema fundamental para a sua comunidade. O fato do cego dá ao Evangelista a possibilidade de falar do processo da fé na vida de uma pessoa. A fé passa das trevas da cegueira para a luz da visão, em outras palavras, da libertação da culpa, presente na vida do cego pela imposição da lei, surge um homem liberto e crente na graça de Deus. João aponta para a nossa vida neste Evangelho. Ele nos faz pensar que só quando deixarmos a palavra de Jesus nos libertar de nossas “faltas de luz” (que segundo Paulo é bondade, justiça e verdade) é que seremos pessoas de grande liberdade interior, capazes de transformar em testemunho público, a força da vida que descobrimos em Deus. Parecendo preocupado com o entendimento da ação de Jesus, João, muito pedagogicamente, nos apresenta a reação de alguns “personagens” diante não tanto de como o cego foi curado, mas sobre quem e do porque alguém o curou, já que era dia de sábado. Se ele era cego desde que nascera, dizia a lei, era porque alguém da sua família havia pecado e por isso o que ele vivia era fruto desta situação. Para o cego não havia outra possibilidades do que aquela que o próprio texto apresenta, “ficava pedindo esmola”. Assim temos: - os Vizinhos que percebem o bem feito por Jesus ao cego, mas não se juntam a Ele no seguimento; - os Fariseus que se recusam a aceitar Jesus, mesmo com todo o testemunho que ouviram do cego; - os Pais do cego que constatam o cura mas não querem se comprometer por medo; as Autoridades que estão interessadas em saber quem era aquele que transgrediu a lei do sábado e do pensamento de que a doença vem como consequência do pecado de gerações; temos ainda o Cego que mostra-se livre, corajoso e sincero nas suas respostas; e por fim o próprio Jesus que vai ao encontro do cego por duas vezes, antes de cura para o fazer livre da cegueira, e depois da cura para acolhê-lo, revelando-se a ele. Diferentemente de outras passagens dos Evangelhos, nesta não se diz que o cego ouviu falar que Jesus passava e “implorou” pela sua cura. Jesus é quem o vê e, aquele que jamais havia conhecido se quer um raio de luz vê então a Luz de Deus inundar a sua vida. “Eu creio” diz aquele que era cego. ORAÇÃO Ó Deus, que ilumina cada um que vem a este mundo, faça resplandecer sobre nós a luz do teu rosto para que nossos pensamentos sejam sempre conformes à tua sabedoria e possamos Te amar de coração sincero. Amém. AGIR Pense na sua vida e veja como estão presentes os “frutos da luz”: a bondade, a justiça e a verdade. Pe. Adilson Schio, ms
SENHOR, DÁ-ME DESSA ÁGUA...”
permitem ter uma relação profunda com Deus e assim “saciar a nossa sede do Deus vivo”. MEDITAÇÃO Tomar água quando estamos com sede é um fato muito cotidiano em nossa vida. Partindo desta experiência Jesus faz a Mulher Samaritana compreender que há um lado interior de nossa vida que tem sede do infinito. Aquela Mulher descobre por si que só Jesus, como um profeta, é o único que pode matar esta sede pois nele se encontra as atitudes “daquele que nos fará conhecer todas essas coisas” (v. 25). Ele é o “salvador do mundo” (v. 42). Quanta sede nós temos do infinito? Neste domingo Jesus nos mostra que o caminho para o infinito é o próprio caminho que Jesus faz. Em outra passagem do Evangelho ele mesmo nos diz que vai ara junto do Pai para preparar um lugar para nós. Quando descobrimos o caminho de Jesus saberemos que quanto mais estivermos do lado daqueles que “tem sede” de Deus, de justiça e do Reino, mais estaremos fazendo a experiência significativa do infinito em nossa vida, isto é, faremos então a experiência da verdadeira fonte da vida, onde jorra água viva, que sacia nossa sede de profundidade. No Evangelho deste domingo temos uma mensagem profundamente quaresmal. Buscamos tanta coisa para viver a profundidade do infinito, seja em nossa experiência de igreja, seja na nossa oração pessoal, que acabamos por esquecer de que é em “espírito e verdade” que devemos adorar a Deus. O infinito e o profundo se juntam nas palavras de Jesus neste Evangelho e revelam que esta sede é uma vontade e um desejo de tornar a vida uma busca pelo essencial, isto é, pelo Deus de Jesus, aquele que é “fonte de água que jorra para a vida eterna” (v. 14). Um modo interessante de ler este Evangelho é analisar o processo pessoal que a Mulher Samaritana faz para acolher em si o diálogo com aquele que de início era um judeu com sede, e que no final é apresentado a todos, pela própria Samaritana, com o convite de ir e ver um “homem que pode ser o Cristo”. O diálogo traz em si as características próprias dos diálogos no Evangelho de São João, isto é, usando um tema paralelo, de início mal entendido pelo interlocutor, chega-se a um entendimento mais significativo da realidade da encarnação. O assunto da água é típico, Jesus não se refere somente a água natural que estava ali no poço a muitos anos e que servia a todos, mas coloca em evidência o assunto da revelação de Deus em si mesmo e mostra a nós hoje que quem faz a experiência da intimidade com Jesus, de tê-lo como água para a sua sede de infinito, estará descobrindo o Deus da vida em sua espiritualidade. Do seu encontro com Jesus, a Mulher Samaritana sente a necessidade de anunciar Jesus a todo seu povo. É a nossa experiência profunda do Messias que nos faz ser anunciadores de que Jesus é a fonte de nossa vida. Não nos cansemos de pedir a Jesus, como a Samaritana o fez: “Senhor, dá-nos dessa água...” ORAÇÃO - Salmo 41(42) Assim como a corça suspira pelas águas correntes, suspira igualmente minh´alma por vós, ó meu Deus! Minha alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus? ... Porque te entristece, minh´alma, a gemer no meu peito? Espera em Deus! Louvarei novamente o meu Deus salvador! AGIR Nesta semana procure rezar outras vezes o Salmo 41(42), rezando-o diretamente da Bíblia. Pe. Adilson Schio, ms
ESTE É O MEU FILHO AMADO...
rosto do Deus Vivo em nosso meio. A Primeira e a Segunda Leitura também nos trazem a força da ação de Deus na vida do seu povo. Do Livro do Gênesis temos o convite de Deus a Abraão e a toda a sua família, e ao mesmo tempo, a promessa de bênção que vem como confirmação da fidelidade aos planos de Deus. Abraão sai de sua terra a vai pelos caminhos do Deus único. Da Carta a Timóteo, novamente o tema da graça que, segundo Paulo, foi manifestada plenamente em Jesus que “faz brilhar a vida e a imortalidade”. MEDITAÇÃO O Prefácio da Missa do 2º Domingo da Quaresma (aquele que o padre reza antes da aclamação do Santo), é uma verdadeira “aula” de teologia. As palavras que ali se reza nos introduzem neste grande mistério que é a vida de Jesus, como filho de Deus, enviado para nos resgatar da morte. Diz um parágrafo do Prefácio: “Tendo predito aos Discípulos a própria morte, Jesus lhes mostra, na montanha sagrada, todo o seu esplendor. E com o testemunho da Lei e dos Profetas, simbolizados em Moisés e Elias, nos ensina que, pela Paixão e Cruz, chegará à glória da ressurreição”. Não há ressurreição sem o caminho ou a prova da paixão e da cruz. O caminho da vida é marcado pelo testemunho vivo de que Deus nos levara a viver a vida na plenitude do amor pois Ele “pousa o seu olhar naqueles que nele confiam e esperam em seu amor” (Salmo Responsorial). Mateus descreve a Transfiguração de Jesus com um texto belo e muito inspirado, se o lermos com espiritualidade nos sentiremos presente no monte Tabor. Há uma beleza descrita nos detalhes da cena (montanha, a roupa branca, a nuvem que envolve, o brilho do rosto...) mas há também uma sensibilidade do Evangelista ao descrever as reações daqueles que presenciam aquele momento. Temos ainda da força da Palavra que sai da nuvem, para confirmar Jesus e sua missão. Porém, significativo é também o contexto em que está contada esta história no Evangelho de Mateus. Ele escreve a Transfiguração logo após ter apresentado o diálogo de Jesus com Pedro e os discípulos sobre quem era Ele, Jesus, e como deveria ser o seu seguimento. Por isso, o centro do Evangelho deste domingo é propriamente toda a cena, isto é, a Transfiguração de Jesus. Contudo a Transfiguração não é um triunfo, pois Jesus sempre rejeitou o triunfo, Ele veio para servir, nem mesmo é uma emoção que faz estar bem, como a reação de Pedro possa querer indicar, mas é certamente um pouco de todo o esplendor do Reino que Jesus anunciava e que se tornará verdade nele mesmo pois quando, ressuscitado, transfigurará o mundo todo. Mas por que Jesus leva consigo alguns dos seus apóstolos? O Evangelho não responde essa questão, mas podemos dizer que Jesus conhece as nossas fraquezas e sabe quando é o momento de nos levar ao Monte Tabor para ali iluminar a nossa esperança que por vezes é fraca. Estes momentos de luz, evidentemente, não servem só para sentirmos uma mera alegria passageira, mas para nos fortalecer na fé, pois na nossa vida e na vida dos Apóstolos naquela época, ainda haveria outra subida, a outro monte, e que nesta sim seria necessário crer com toda a certeza de que Jesus venceria a morte. Pela frente ainda haveria a subida ao Monte Calvário. Mesmo em meio às sombras da morte, ainda assim é mais forte a luz do amor de Deus em Jesus. Como bem disse o Papa Francisco na sua Mensagem para a Quaresma deste ano: “A encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor divino: um amor que é graça e generosidade”. ORAÇÃO Senhor, hoje eu rezo, com toda a Igreja, simplesmente assim: venha sobre nós a sua graça, da mesma forma que em Vós nós esperamos. Amém. AGIR Pergunte-se a si mesmo: como você está escutando Jesus? Pe. Adilson Schio, ms
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Pe. Adilson Schio Ms
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