COMUNIDADES PARA O REINO É o que os Discípulos pensavam ao verem outros usando o nome de Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue” (Evangelho, v. 38). A atitude de Jesus é aquela de acalmar o coração e de “explicar” a situação: “Quem não é contra nós, é a nosso favor” (Evangelho, 39). Esta frase é confirmada no caso de Moisés (1ª Leitura): o espírito invocado sobre os seus ajudantes, desce também sobre outros. Ninguém pode impedir a ação livre do espírito. Josué quer fazê-lo, mas Moisés reconhece a importância da docilidade ao Espírito: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito” (1ª Leitura, v. 29). Na segunda parte do texto do Evangelho, ao comentar aquele caso trazido a Jesus por João, o Mestre apresenta uma série de instruções sobre a fidelidade do discípulo, que deve ser sempre pronto a eliminar de sua vida tudo aquilo que o impede de ser um verdadeiro seguidor de Jesus. Neste mesmo sentido é que Tiago escreve a sua carta (2ª Leitura) com algumas advertências sobre as coisas que não nos fazem ser testemunhas do amor de Jesus. Pe. Adilson Schio, ms
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QUEM ACOLHE É A MIM QUE ACOLHE
discute sobre quem é o maior entre eles. Enquanto Jesus anuncia que se fará servo até a cruz, os discípulos desejam vantagens. Aqui temos uma daquelas atitudes negativas que Tiago fala na 2ª Leitura que suscitam guerras, invejas, divisão: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más” (2ª Leitura 3,16). A este tipo de atitudes o Apóstolo apresenta a sabedoria que vem do alto como uma semente de paz: “a sabedoria do alto é antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento” (3,17). Esta ideia de uma vida com atitudes diferentes vem confirmada pela afirmação da 1ª Leitura: “de fato, o justo é filho de Deus e Deus o defenderá” (v. 18). |
LEITURA |
primeira vez aos Discípulos – com a força da sua confiança no Pai. A paixão é para Jesus um caminho que serve também a quem se coloca no seu seguimento: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Evangelho, v. 34). Com Pedro, somos também convidados a professar a nossa fé no Cristo, Messias do Pai (cf. Evangelho, v. 29).
MEDITAÇÃO
O Evangelho de hoje nos abre para a segunda parte dos escritos de Marcos. Se na primeira parte este Evangelista nos quis mostrar que Jesus é o Messias que vem para proclamar o Reino de Deus, nesta segunda parte ele nos quer fazer ver que ele é o “Filho de Deus” que vem para doar a sua vida como dom de amor. Na história narrada hoje, vemos o jeito catequético de Marcos nos propor que Jesus é diferente no seu jeito de ser, e é a grande novidade de Deus para o mundo dos homens. O primeiro contraste que revela esta mudança da ação de Deus é descrito a partir das duas perguntas de Jesus e que Marcos apresenta três respostas, cada uma com sua verdade, mas diferente na perspectiva que apresentam: As perguntas: “Quem dizem os homens que eu sou?” (v. 27) e, “Vos quem dizeis que eu sou?” (v. 29). As respostas: A primeira é aquela onde os discípulos reportam a Jesus o que dizem os homens: “João Batista, Elias ou ainda um dos profetas...” (v. 28). O conteúdo desta resposta revela que alguns olham para Jesus como uma continuidade do passado. Parece serem incapazes de perceber a novidade e a originalidade de Jesus. Estas pessoas identificam Jesus simplesmente como um homem escolhido por Deus, enviado ao mundo com uma missão, tal como aqueles do Antigo Testamento. Portanto, na perspectiva comum, Jesus é apenas um homem que escutou os apelos de Deus. Esta visão é importante, mas não é suficiente. Surge então a resposta dos Apóstolos que, condensada na afirmação de Pedro, afirma que ele é o Messias (o Cristo), isto é, o libertador que Israel esperava. Alguém enviado para libertar o povo e oferecer a salvação definitiva. Esta resposta também tem seu conteúdo de verdade, mas pode servir para equívocos já que a libertação do povo era esperada de diversas maneiras, por grupos muito diversos. Esta é a razão que faz Jesus dizer aos discípulos de não falarem disso a ninguém. A visão da comunidade dos discípulos estava ainda muito centrara numa lógica gloriosa e vencedora. Isto é, na lógica do mundo e não na vitória que pode estar na cruz e na doação total da vida. Surge então, no texto do Evangelho, a terceira resposta que é a revelação de quem é Jesus por ele mesmo. Jesus mostra que os Planos de Deus não passam pelos triunfos humanos, mas pela doação da vida por amor a Deus e aos outros, até as últimas consequências. A cruz é a expressão mais radical desse amor que é exigente e que é sempre na direção da fidelidade e da renúncia. Mas o que vem a ser esta renúncia a si mesmo que Marcos diz que Jesus apresenta como atitude para seus discípulos? Nos seus versículos, o Evangelho de hoje não nos dá uma resposta, mas no exemplo de Jesus podemos dizer que significa renunciar ao egoísmo e à autossuficiência para fazer da vida um dom. O cristão não pode viver fechado em si próprio, preocupado em concretizar somente os seus projetos, mas deve fazer de sua vida um dom generoso aos irmãos. Só assim ele poderá ser discípulos de Jesus e integrar a comunidade do Reino. Aqui está a diferença de Jesus com relação àqueles que representam a continuidade do passado: Jesus propõe uma comunidade nova, uma comunidade de vida, a comunidade do Reino, a comunidade daqueles que assumem a cruz por amor e pela fidelidade radical aos planos de amor do Pai. Assim a vida será sempre na direção do Deus verdadeiro. O Deus, como nos diz o Profeta Isaías, que é o “auxiliador” (1ª Leitura, v. 7).
ORAÇÃO
Salmo 114: Eu amo o Senhor, porque ouve o grito da minha oração. Ele inclinou para mim o seu ouvido, no dia em que eu o invoquei.
AGIR
Nesta semana, procure ler outras passagens dos Evangelhos e após a leitura pergunte a si mesmo: quem é Jesus para mim?
Pe. Adilson Schio, ms
“ELE FAZ BEM TODAS AS COISAS”
LEITURA |
Justamente para dizer dessa realidade é que se torna significativo o milagre narrado no Evangelho: Marcos fala de um surdo-mudo que vive em território pagão (“Região da Decápole”). Se ali ninguém dava atenção ao tal homem, Jesus o chama para perto de si e para longe de todos, demonstrando a sua especial atenção àquela pessoa e a ela, somente a ela, demonstra o seu querer: vê-lo curado. O Apóstolo Tiago (2ª Leitura) nos exorta a sermos verdadeiros cristãos: assim como Deus não tem preferência por este ou por aquele, assim também devemos ser nós na comunidade de fé.
MEDITAÇÃO
O contexto do Evangelho deste domingo nos ajuda a entender melhor a sua mensagem. Jesus está ainda “em visita” à Galileia. Sente que aumentam as reações negativas a Si e ao seu Projeto, apesar de que por onde passa vai deixando marcas de um novo anúncio de vida e de graça. A discussão com os fariseus e doutores da lei (Evangelho de domingo passado) serve para Marcos dizer que esta foi a última situação que fez Jesus abandonar a Galileia e andar então em “território pagão”. Jesus está entre aqueles que não conhecem o Deus do Antigo Testamento e é a esses que destinará a sua palavra e as suas ações. Notemos que Marcos reforça muito bem esta ideia, nominando as cidades por onde Jesus foi passando. Isso nos recorda a afirmação que diz: “Ele veio aos seus, mas os seus não o aceitaram” (cf. Jo 1,11). É ali que Jesus anunciará, como sempre o fez em todo lugar, o Projeto do Reino de Deus. Ele apresenta palavras e gestos, isto é, Ele tem sempre algo a dizer e demonstra que Ele mesmo vive aquilo que anuncia. Jesus se faz testemunho da bondade misericordiosa de Deus. Os gestos fazem suas palavras serem carregadas de credibilidade e as suas palavras são confirmadas pelos seus gestos. Marcos descreve com grande abundância de pormenores como Jesus curou aquele surdo-mudo e lhe deu a possibilidade de se comunicar, de se expressar, de dizer que ele existe e que tem algo a dizer ao mundo. A ação de Jesus é sempre assim, faz com que aqueles a quem a vida é negada, ou que são colocados à margem de tudo e de todos, recuperem aqui neste mundo o valor que eles possuem perante Deus. Lendo toda a cena e refletindo na sequência dos fatos contados por Marcos podemos ver que a sua intenção vai além de querer contar uma simples cura de um homem que não tinha valor por possuir uma doença que o impedia de comunicar-se. O texto do Evangelho deste domingo é uma verdadeira catequese (ensinamento) sobre a missão de Jesus e a grandeza do seu anúncio para fazer nascer em nós uma nova pessoa. Há duas forças que Jesus usa para promover à vida daquele homem: a força e a profundidade da sua palavra (“Abre-te”), que Marcos faz questão de registrar na própria língua de Jesus (“Efatá”); e a força de seus gestos que promovem e acolhem para “curar”: “Colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele” (v. 33). O encontro com Jesus, recordemos que em terras pagãs, transforma radicalmente a vida daquele homem. Jesus abre-lhe para a vida. Agora ele será capaz de escutar, falar, partilhar, entrar em comunhão com as outras pessoas, dizer do seu pensamento e das suas reações diante do mundo e dos outros. Aquilo que o diminuía agora não existe mais, passou, ele pode se sentir imerso em uma nova vida. E, segundo Marcos, uma das suas primeiras palavras é justamente um testemunho de reconhecimento: “Ele [Jesus], faz bem todas as coisas” (v. 37). A liturgia deste 23º Domingo do Tempo Comum nos apresenta na prática de Jesus, mais uma verdade de Deus: Ele está sempre comprometido com a vida e a felicidade de cada um de nós, por isso nos liberta de toda a nossa surdez a fim de ouvirmos e praticarmos a sua Palavra. A missão de Jesus é a de abrir nossos ouvidos e nossos corações ao Projeto do Reino. Para bem vivermos a mensagem da Liturgia da Palavra deste domingo, devemos recordar constantemente este versículo do Profeta Isaías: “Dizei às pessoas... Deus vem para nos salvar” (1ª Leitura, v. 4).
ORAÇÃO
Salmo 145: Bendize, ó minha alma ao Senhor. Bendirei ao Senhor por toda a minha vida!
AGIR
Peça a graça de você ter sempre seus ouvidos e seu coração aberto aos irmãos.
Pe. Adilson Schio, ms
UM AMOR QUE VENHA DE DENTRO
LEITURA |
seguem Jesus (2ª Leitura). Paulo, escrevendo a Tiago, deixa claro que o discípulo de Jesus Cristo é capaz de duas atitudes básicas: “Receber com humildade a palavra”(2ª Leitura, v. 21) e “praticar a Palavra” na assistência e na solidariedade daqueles que mais precisam (v. 22). Paulo chega a afirmar que está é, perante Deus, a verdadeira prática religiosa. Esta mensagem é completada pelo Evangelho onde Jesus demonstra sua total oposição aos fariseus e escribas porque eles se distanciaram do senso mais profundo da lei, valorizando pura e simplesmente o legalismo e a formalidade.
MEDITAÇÃO
O Evangelho de hoje nos apresenta duas questões importantes em que há uma ligação muito próxima entre elas. A primeira questão vem do confronto claro entre Jesus e os escribas e fariseus. Tal confronto não é feito sobre o valor da lei, mas sim sobre a sua interpretação e principalmente sobre a prática que deriva dos preceitos humanos e também religiosos. Não nos esqueçamos que a prática religiosa do judaísmo no tempo de Jesus estava centrada sob os conceitos de “puro” e “impuro”. A partir desta visão e deste agir, Jesus faz todos verem a outra questão que é justamente o como e com que profundidade se honra, se ama e se serve a Deus na relação pessoal que deve existir entre aquele que crê e aqueles que são os amados de Deus. “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Is 29,13). Jesus, ao retomar esta passagem do Livro do Profeta Isaías, faz emergir no seu confronto com os fariseus e escribas, a sua visão de como praticar a lei. Jesus não é contra a lei. Ele as seguia. Porém na justa medida e na verdadeira prática para o bem do próximo. Os fariseus e os escribas representam no Evangelho de Marcos a figura do homem religioso que existe também em nós. Muitas vezes nos deixamos levar pelo legalismo, pelo formalismo e pela exterioridade, fazendo da oração e da fé um peso e uma obrigação condenatória, muito mais do que uma verdadeira experiência do Deus da paz, do perdão, da misericórdia e do amor que promove, edifica e fortalece. A beleza e a profundidade das palavras de Jesus neste Domingo indicam a nós hoje, que somente uma intensa e verdadeira “espiritualidade”, que Jesus a identifica como aquela que “vem do coração que está perto de Deus” (cf. Evangelho, v. 6), pode fazer agradáveis a Deus, o nosso pensar e o nosso agir. Para aqueles que se diziam grandes entendedores de como servir a Deus (os fariseus e os escribas), Jesus não tem meias palavras para dizer: “Vocês honram a Deus somente com os lábios” (Evangelho, v. 6). Jesus nos mostra que a espiritualidade é a vivência da fé nas condições e nas ações práticas da vida cotidiana. Neste sentido Ele nos mostra que ela não é só uma atitude a ser vivida dentro das quatro paredes de uma igreja, mas abrange as dimensões individual, familiar, comunitária e social. Jesus, pelas palavras firmes do Evangelho de hoje, recupera a visão dos profetas do Antigo Testamento que sempre exortaram ao povo para viver a prática da justiça e da vontade de Deus como primeira ação que pode nos aproximar Dele. Pois de verdade a “impureza” de que fala a lei, são “as más intenções, a imoralidade, os roubos, os crimes, os adultérios, as ambições sem limites, a maldade, a malícia, a devassidão, a inveja, a calúnia, o orgulho e a falta de juízo” (Evangelho, v. 21). É isso que nos afasta de Deus e tudo isso muitas vezes vem de dentro de nós, simplesmente porque não temos Deus no coração. Para terminarmos a nossa meditação deste 22º Domingo do Tempo Comum, é bom refletir neste versículo que São João escreveu na sua Primeira Carta: “O amor de Deus se realiza de fato em quem observa verdadeiramente a Palavra de Jesus” (1Jo 2,5).
ORAÇÃO
Salmo 14: Senhor, quem morará em vossa casa e no vosso monte santo? Aquele que caminha sem pecado, pratica a justiça fielmente e que pensa a verdade no seu íntimo.
AGIR
Reflita: sua prática religiosa é de exterioridade ou vem da presença de Deus em seu coração?
Pe. Adilson Schio, ms
Pe. Adilson Schio Ms
Reitor do Santuário
Acompanhe conosco a Liturgia dominical comentada pelo nosso reitor.
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