Uma tempestade os surpreende, enquanto isso o Cristo dorme na barca. O medo invade os discípulos que se sentem estupefatos diante da aparente indiferença do Mestre. Surge então outra pergunta: “Não te importas que estamos perecendo?” (v. 38). Jesus intervém e acalma o mar e o medo, porém toda a cena deste Evangelho revela um grande mistério: parece que os Discípulos ainda não haviam compreendido claramente quem era Jesus. Da Primeira Leitura temos o belo diálogo de Deus com Jó em meio da tempestade e daí também vem outra pergunta feita por Deus ao Jó a fim de lhe dar consciência dos fatos: “Quem fechou o mar com portas?” (1º Leitura, v. 8), ou seja, quem tem o domínio sobre tudo o que foi criado, até mesmo sobre o a força do mar? É Paulo, na Segunda Leitura, que nos dá a indicação de como podemos responder com sensatez todas estas questões: “se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo”. (2º Leitura, v. 17). O velho medo desapareceu. MEDITAÇÃO É na força da fé que podemos vencer todas as tempestades e todas as adversidades da vida cristã. Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus e é nesta fé que somos fortes e que podemos nos sentir protegidos, mesmo que o mundo nos faça medo ou que não consigamos compreender do porque o mundo está cheio de incompreensão e de injustiça. À luz deste Evangelho podemos nos colocar aquela pergunta que por muitas vezes fazemos a nós mesmos: “Onde está Deus que permite tanto sofrimento no mundo de hoje?”. Se a pergunta já é difícil e revela uma triste realidade, a sua resposta também não é fácil. Mas precisamos partir de um princípio: o nosso Deus não é alheio ou indiferente ao sofrimento e as situações difíceis da vida de seus filhos, tal como pensaram os Discípulos na história contada no Evangelho de hoje. Deus não está longe daqueles que Ele ama desde sempre. Ao contrário, Ele é sempre atento e pronto para intervir. Olhemos para as palavras do Evangelho: estamos ainda na primeira parte do Evangelho de Marcos. É nesta parte onde o Evangelista diz que muitos não acreditavam em Jesus apesar de “verem as suas obras e os seus milagres” (Mc 1,23). Mais do que uma narração fiel de uma viagem de Jesus com os discípulos, aquilo que Marcos nos conta hoje deve ser visto como uma página de catequese. Usando elementos de forte simbologia como a noite, o sono de Jesus, o mar revolto e a tempestade, Marcos nos apresenta uma reflexão sobre a vida e a busca de viver pela fé daqueles que seguiam Jesus. Na concepção bíblica o mar é visto como domínio da escuridão, é algo do desconhecido, é adverso ao homem, porém também nos faz lembrar que o Deus Criador tem poder absoluto sobre o mar pois é sobre as águas que Ele cria o mundo. Deus é mais forte que o medo e o desconhecido. Deus é a força que está acima das “tempestades da vida”. É quando vacilamos na fé, pelas nossas dúvidas e pelas nossas incompreensões, que devemos olhar tudo com outros olhos para então dizer a nós mesmos: o Cristo nunca deixa de estar presente. Ele é presença até mesmo lá onde há realidades que ao nosso coração e aos nossos sentidos humanos nos são incompreensíveis. Se olharmos tudo com os olhos da fé, o Cristo está justamente naqueles que sofrem, é um daqueles que são perseguidos, é um daqueles que perderam a vida em razão da maldade e da injustiça, em razão dos absurdos que a humanidade é capaz de fazer contra a própria humanidade. Deus é Deus no coração e na vida daqueles que mais sofrem. Como diz um velho ditado, justo e certo para esta nossa reflexão: “Deus move o céu inteiro para aquilo que o ser humano é incapaz de fazer. Mas não move uma palha para aquilo que a capacidade e o amor humano podem resolver”. É preciso que façamos algo pelo mundo e pelas pessoas. Marcos nos apresenta este milagre de Jesus para nos fazer compreender que Ele é presente em nós. A força de Jesus em acalmar o mar, que na Sagrada Escritura é sempre atribuída a Deus, revela que verdadeiramente ele é o “Deus Conosco”, o “Filho de Deus” que está entre nós. Há, em nosso mundo, muitas realidades que a união e a ação que vem da fé podem resolver. Deus não é alheio ao nosso sofrimento. Ele está sempre aqui, no coração da vida. ORAÇÃO Salmo 106: Dai graças ao Senhor porque ele é bom, eterna é a sua misericórdia. AGIR Sinta a força de reconhecer Cristo sempre presente no teu dia a dia. Pe. Adilson Schio, ms
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Na Leitura do Profeta Ezequiel (1ª Leitura) se anuncia a reestruturação da vida do povo, depois da ruptura da aliança com Deus. Ele jamais esquece seu amor misericordioso para com seu povo e é dessa forma que “todos saberão que Ele é Deus que diz e faz” (v. 24). Esta é também a mensagem de Paulo na Segunda Carta aos Coríntios: caminhamos na fé e na confiança em Deus porque temos uma certeza: Deus não esquece nada do quanto fazemos por seu amor, “e assim cada um receberá a sua recompensa” (v. 10). MEDITAÇÃO Marcos nos apresenta as Parábolas da Semente que é lançada na terra pelo agricultor e do Grão de Mostarda. A intenção de Jesus, segundo Marcos, é fazer compreender como o Reino de Deus, anunciado por Ele através em Parábolas, cresce apesar dos obstáculos e das pessoas que não o aceitam e até o ignoram. Porém a leitura do Evangelho de hoje nos revela uma dimensão muito importante do jeito de Jesus e é esse jeito que devemos refletir e rezar: Marcos diz que Ele falava em parábolas para explicar as coisas de um jeito que todos pudessem compreender (v. 33) e falava-lhes do Reino de Deus (v. 26). Esta certeza de Marcos de que Jesus não prega a si mesmo e não anuncia a sua própria pessoa, e que não busca para si promoção ou poder, mas faz do Reino do Pai o conteúdo de seu anúncio, esta certeza faz parte da própria razão do porque Jesus veio ao mundo e que Marcos reafirma como base de toda a compreensão que podemos ter sobre quem é Jesus: Jesus é o Messias, Filho de Deus e Filho do Homem, portanto de natureza divina e humana, homem livre e desapegado, todo do Pai, que traz até nos a Boa Nova da salvação que se concretiza no testemunho de fé de quem o segue. Assim, Jesus no Evangelho de Marcos, é aquele que foi Ungido para anunciar da boa notícia da proximidade do Reino. Segui-lo é uma questão de escolha e de reconhecimento, pois Jesus é a revelação definitiva de Deus. Em Jesus e na sua pregação, Deus demonstra a sua fidelidade pois, ontem, hoje e sempre, continua a conduzir a história humana rumo à vida plena e a felicidade sem fim, isto é, continua a fazer seu Reino crescer entre nós mesmo que nós não o percebamos (cf. Evangelho, v. 27). Quanto as Parábolas de Jesus que temos neste Domingo no Evangelho, podemos concluir que o centro daquilo que Jesus anuncia não é aquilo que o agricultor faz, mas sim é a própria força da semente que foi lançada na terra. Assim, Jesus nos ensina que o Reino de Deus (que é a semente) é uma iniciativa de Deus que é quem age com amor e misericórdia para fazer que o Reino aconteça, seja no silêncio da noite, no tumulto do dia a dia, ou nas turbulências da história. A semente do Reino já foi lançada e ela cresce no coração das pessoas que são capazes de transformar o mundo com suas palavras e ações. Mas se o Reino é ação de Deus, onde está então a importância das pessoas? Esta é uma pergunta interessante. Jesus foi quem propôs um caminho novo, quem disse da possibilidade de se construir uma realidade nova. Ele lançou a semente da transformação, somos nós que acolhendo esta semente, com abertura de coração e de mente, agimos no mundo para fazê-lo mais conforme o “sonho” de Deus. Nas Parábolas de hoje Jesus deixa claro que a semente lançada não foi em vão. Ela está em nós e cresce por nossa abertura e pela própria ação do Deus sempre fiel em nós. A liturgia deste 11º Domingo do Tempo Comum nos faz ver que é do coração da nossa fé que se levanta nossa gratidão a Deus por cada dom que Ele nos oferece em cada momento de nossa existência, por isso é bom e agradável sempre rendar graças ao Senhor, porque de todos os dons que ele nos oferece, aquele de vivermos no seu Reino é a maior graça que Ele nos dá para nosso conforto e coragem, mesmo que por vezes não percebemos “que esta semente cresce a cada dia”. (cf. v. 32). ORAÇÃO Salmo 91: Como é bom agradecer ao Senhor e cantar salmos de louvor ao Deus altíssimo! Anunciar pela manhã a sua bondade e o seu amor fiel a noite inteira. AGIR Comprometa-se com sua comunidade e seja também você alguém que anuncia o Reino de Deus. Pe. Adilson Schio, ms
Viver à margem de Deus leva inevitavelmente ao sofrimento de sentir-se abandonado. São Paulo escreve aos Coríntios apresentando duas fortes convicções de sua fé: “com este mesmo espírito de fé, também acreditamos e falamos” (2ª Leitura, v. 13): - Deus vai ressuscitar todos com Jesus e, - então estaremos eternamente na comunhão com Ele. Para São Paulo a fé se renova a cada dia que acolhemos no coração a certezas das coisas que são eternas. No Evangelho temos a narração de três diálogos de Jesus, no mesmo tempo e no mesmo lugar, dois com seus familiares e outro com os escribas. Em todos os três diálogos a mensagem central é fazer a vontade de Deus. MEDITAÇÃO Reconhecer Jesus como aquele que vem em nome de Deus para fazer o bem. Esta parece ser a maior dificuldade de alguns grupos de pessoas no tempo de Jesus e, porque não, também nos dias de hoje. O Evangelho deste Domingo nos fala desta dificuldade e o faz a partir da escolha de cada um em querer perceber onde está o bem e onde está o mal. A sutileza do mal por vezes nos fecha os olhos e nos torna incapazes de ver que até mesmo nos gestos e na pregação de Jesus há sempre a proposta para o bem, a esperança, o amor fraterno e a missão pelo Reino. São Marcos, autor do Evangelho deste Domingo, nos conta a história de Jesus que “voltando para casa com seus discípulos, reuniram-se ali tanta gente que eles nem se quer podiam comer” (v. 20). Não se trata aqui de mera popularidade de Jesus, mas certamente porque suas palavras e sua maneira de falar de Deus cativava o povo. Jesus fala do Pai e do Reino em parábolas de modo que todos podiam entender (v. 23). É interessante perceber o contexto em que São Marcos descreve esta “volta para casa” de Jesus. No início deste capítulo 3 ele descreve três outros momentos de Jesus: - Na Sinagoga, em dia de sábado, onde ele cura e chama para estar no meio de todos um homem cego (Mc 3,3) e pergunta: “o que fazer, o bem ou o mal? Salvar uma vida ou matá-la?” (Mc 3,4). Como resposta a estas perguntas de Jesus ninguém disse nada; - No segundo momento Marcos narra que Jesus foi para a beira do mar, ali ele curou a muitos e muita gente o seguia porque “tinham ouvido falar de tudo o que ele fazia” (Mc 3,8) e todos reconheciam que Ele era o filho de Deus (Mc 3,11); - No terceiro episódio desta sequência, Marcos descreve Jesus compondo o seu grupo de apóstolos: Jesus sobe ao monte (sinal de oração) e chama para si os que ele desejava, para “ficar com ele e para enviá-los a pregar” (Mc 3,14). São estas atitudes de Jesus que fazem com que alguns o aceitem e outros, até mesmo entre os seus parentes, não o aceitem. Toda a cena do evangelho se passa numa casa. O estilo da narração indica que é nesta casa onde Jesus vai para “pregar a Palavra”. É uma casa aberta a todos, é ali onde a comunidade pode se reunir em assembleia e se identificar como povo de Deus. O fato de Marcos se referir a esta casa como situada em Cafarnaum, que é o centro a partir do qual se irradia a atividade de Jesus na Galileia, pode se referir a Sinagoga onde Jesus havia passado e anunciado a Boa Nova do Reino (cf. Mc 1,39). Porém a “casa” aqui nesta narração bíblica representa a comunidade a quem Jesus dirige a sua pregação do Reino, portanto, é também a nossa casa. Neste sentido é muito interessante que Marcos coloca muitas pessoas presentes neste momento com Jesus, mas ele destaca duas diferenças: primeira, nem todos aceitam o que Jesus diz e o acusam de estar possuído e, segunda, nem todos estão dentro da casa, alguns escolhem permanecer fora da casa. Fica clara esta distinção quando lemos que a família de laços de parentesco de Jesus fica do lado de fora e manda chamá-lo (v.31), a família, segundo o compromisso da fé, está “dentro”, ao redor de Jesus (v. 32). É aqui que Marcos deseja chegar com a sua narração: a verdadeira família de Jesus é formada por aqueles que realizam, na própria vida, a vontade de Deus que consiste justamente em dar continuidade à missão de Jesus. Assim, também nós somos de Jesus quando realizamos tudo aquilo que Ele mesmo nos falou. Hoje o Evangelho nos convida a nos tornarmos membros da família de Jesus que anuncia a Boa Nova em todos os tempos. Qual é a nossa resposta? ORAÇÃO Salmo 129: No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra. A minha alma espera no Senhor, mais que o vigia pela aurora. AGIR Faça da sua casa a “casa” onde Jesus possa sempre anunciar a sua palavra de vida e de verdade. Pe. Adilson Schio, ms
sobre o povo, que assume, com estas palavras, a sua aceitação à aliança com o Deus Único: “Faremos tudo o que o Senhor nos disse e lhe obedeceremos” (v. 7). O sangue na tradição bíblica do Antigo Testamente é sinal de oferecimento e na libertação do Egito é a marca do povo escolhido. Com o rito feito por Moisés o sangue se torna simbolicamente a comunhão entre Deus e o seu povo, pois uma nova vida pode ser gerada ao se viver os mandamentos do Senhor. Jesus, na Eucaristia, cumpre plenamente tudo aquilo que foi prefigurado na primeira aliança: agora o sangue não vem aspergido na exterioridade dos nossos corpos, mas se torna “sangue da nova e eterna aliança, que é derramado por vós e por todos” (cf. Momento da Consagrada do vinho na missa). É assim, dando seu sangue na fidelidade ao Pai, que Jesus se torna o único e supremo mediador da nova aliança entre Deus e a humanidade (2ª Leitura, v. 15). É o corpo e o sangue de Cristo oferecido na Cruz, uma vez por todas, que elimina qualquer impedimento que possa existir para o encontro entre nós e Deus. “O sangue de Cristo purifica a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo” (v. 14). MEDITAÇÃO A Sequência, parte optativa da Liturgia da Palavra desta Solenidade, que se feita pode ser proferida ou cantada antes da aclamação ao Evangelho, tem um belo parágrafo que nos da a dimensão de espiritualidade e de alegria da celebração do Corpo e Sangue de Cristo: “Terra, exulta de alegria, louva teu pastor e guia com teus hinos, com tua voz... O que o Cristo fez na ceia, manda a Igreja que o rodeia, repeti-lo até voltar, repeti-lo até voltar”. O nosso louvor neste dia é ao Cristo, fonte de nossa alegria, corpo entregue por nós no sacrifício da cruz. Ele é o alimento da eucaristia deixada como memória, que se fez liturgia. A Eucaristia partilhada na missa é recordação do viver e do jeito de ser de Jesus com seus seguidores: “Onde está a sala que o Mestre celebrará a Páscoa com seus discípulos” (Evangelho, v. 14). Por isso ao Cristo, alimento de unidade e de comunhão, caminho para o Pai, a Ele o louvor, a honra, a glória e o poder (cf. Rm 11,36). Também podemos ver a Eucaristia como a memória viva do Cristo na comunidade. É sempre em torno da partilha do pão consagrado, que era trigo e que com o trabalho do homem e da mulher se tornou alimento, que a comunidade se sente fortalecida. Marcos no Evangelho deste dia nos quer fazer sentir a importância deste momento celebrativo de Jesus com seus discípulos. Uma celebração que se tornará o centro vital da comunidade formada pelos que seguem a Jesus e portanto vital também para nós hoje. O Evangelho diz que há uma preparação para o acontecimento; há um local escolhido; há uma liturgia que é feita, pois se tratava da celebração da festa da páscoa; eles cantaram o hino (cf. v. 26) e ouvem as palavras de Jesus que, ditas naquele momento, revelam o sentido mais profundo da entrega de si, fazendo do seu corpo e do seu sangue, ao mesmo tempo, dom e partilha de vida. “Isto é meu corpo...” (v. 22). “Isto é meu sangue, o sangue da aliança” (v. 23). O gesto e as palavras de Jesus na Ceia com seus Discípulos, antes de se dirigirem ao Horto das Oliveiras, não são apenas afirmação de que o pão e o vinho são sinais da sua presença como recordação, mas são palavras que manifestam o profundo sentido da sua vida, revelam a razão de sua morte e anunciam a plena realização da sua missão: Cristo se doa para que tenhamos mais vida e para que permaneçamos unidos em torno daquele que nos quer plenamente fortalecidos com o alimento da vida nova, que será em nós “maná” da eterna aliança. A celebração deste dia é também uma “catequese” para o nosso testemunho de fé. Ela nos ensina que o encontro com Jesus na Eucaristia se realiza de verdade e plenamente quando em comunidade somos capazes de reconhecer o Cristo no sacramento do pão e do vinho consagrados e partilhados na oração. No encontro da comunidade-igreja, reunida na celebração da eucaristia, Jesus nos convida à sua ceia e depois, permanecendo em nós, nos acompanha com sua graça e com sua luz, pelos caminhos da nossa vida. Vivamos pois fielmente este grande dom da aliança nova em Jesus. Guardemos no coração esta verdade: Jesus é sempre conosco, através da Eucaristia que recebemos com respeito, humildade e consideração. O Pão e o Vinho Consagrados e partilhados são para nós a presença real do Cristo que amamos com especial amor, e se tornam alimentos que fortalecem a nossa caminhada de fé “até o dia em que beberemos do vinho novo no Reino de Deus” (v. 25). ORAÇÃO Salmo 115: Que poderei retribuir ao Senhor Deus, por tudo que ele fez em meu favor? AGIR Responda a você mesmo(a) a pergunta do Salmo 115 e termine este momento orante agradecendo a Deus. Pe. Adilson Schio, ms
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Pe. Adilson Schio Ms
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