A Quaresma não é um tempo “triste” como muitas vezes possamos pensar, mas se trata de um tempo especialmente orante para percebermos as dificuldades e também a beleza de redescobrirmos Deus presente no mundo e na nossa própria história de fé, por isso mesmo é um tempo de deixar que renasça em nós “uma nova pessoa” reconciliada na graça de Deus. É, em fim, um tempo favorável para sermos tudo, na misericordiosa e amorosa mão de Deus. MEDITAÇÃO Neste Primeiro Domingo da Quaresma a Antífona de Entrada da Missa nos dá o verdadeiro sentido para aquilo que celebraremos: Quando meu servo chamar, hei de atendê-lo, estarei com ele na tribulação. Hei de livrá-lo e glorificá-lo e lhe darei longos dias (Sl 90,15s). O Salmista expressa na sua oração tudo aquilo que Deus faz por quem o tem em sua vida. O Salmo 90 inicia com um convite: “Você que habita ao amparo do Altíssimo, e vive à sombra do Onipotente, diga a Javé: Meu refúgio, minha fortaleza, meu Deus em ti confio!” (Sl 90, 1-2). Na sequência a este convite o Salmista descreve as razões do porque fazer de Deus a nossa confiança e, entre as razões apresentadas, está justamente aquela da antífona de entrada da missa deste domingo, confiar porque Deus nos atende e nos livra das tribulações. Esta deve ser uma grande certeza de fé a nos acompanhar durante todo este período quaresmal. A história das tentações de Jesus é contada por três dos quatro Evangelhos: Mateus, Marcos e Lucas. Em todos os relatos a história contada quer expressar uma experiência interior de Jesus, isto é, Jesus consigo mesmo e diante de sua missão e do seu amor ao Pai, olha para si e vê que precisa vencer aquilo que o impede de viver o plano de Deus. É uma experiência de interioridade para fazer-se pleno na exterioridade. Vencendo as tentações comuns a todas as pessoas, Jesus pode ser totalmente livre para ser e viver como o Messias. As tentações, aquelas de Jesus e as nossas hoje, sempre nos colocam num caminho em que precisamos de discernimento. Os Evangelistas, associando esta história das tentações interiores de Jesus ao seu batismo, nos mostram que diante das tentações a verdadeira atitude não é aquela da fuga ou do distanciamento daquilo que pode ser o caminho do mal na nossa vida, mas sim, com base na própria Palavra de Deus, a atitude mais verdadeira é aquela do discernimento e da afirmação de que em nós é maior a força da Palavra de Deus do que o convite do mal. É aqui que retornamos à Antífona da Missa que meditamos anteriormente: Deus está conosco também na tribulação. O texto do Evangelho inicia dizendo que Jesus foi “conduzido pelo Espírito ao deserto” (v. 1). O Espírito não conduz Jesus à tentação, mas é presença em Jesus. O acompanha. O Espírito é sempre luz para os nossos discernimentos, principalmente nos tempos de deserto e de incertezas em nossa vida. Jesus não vence as tentações interiores só por ele mesmo, vence-as com a força do “sopro de Deus”, com o Espírito Paráclito (Paráclito significa aquele que encoraja e reanima). O mesmo Espírito que Jesus promete deixar com os seus discípulos e a Eles O envia no Pentecostes. Jesus, filho e servo, na sua vitória contra o mal, enche o nosso coração de esperança e nos ajuda a também vencermos tudo o que oprime, afasta ou nos isola de vivemos pela “palavra que sai da boca de Deus”. Este é o nosso grande desafio, viver por Deus e com Deus... ORAÇÃO Senhor, enche-me com teu Espírito. Faze-me repleto da tua graça e proteja-me de toda falta de discernimento diante de tudo que pode me afastar de ti e do amor a meus irmãos. Sonda-me Senhor, e livra-me de toda forma de pecado e de fraqueza. A ti me confio e em tua intercessão espero. Amém. AGIR Nesta semana procure meditar por pelo menos 1 hora a Palavra de Deus. Uma boa meditação pode ser feita a partir da oração do Salmo 90. Pe. Adilson Schio, ms
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É PRECISO IR ALÉM...
exemplos concretos de como o perdão, o amor e a justiça podem ter seu espaço se nosso pensamento e nossas atitudes forem mudando. MEDITAÇÃO Muita coisa neste mundo depende da atitude humana. A crítica que Jesus faz é sobre as atitudes que discriminam, anulam e destroem o verdadeiro amor e o verdadeiro respeito. Desde sempre foi assim. A história da salvação é plena de exemplos e momentos onde o povo disse ser fiel a Deus, mas com as atitudes faziam exatamente o oposto. Para melhor entender, refletir e rezar os textos deste Domingo é bom começar pela Segunda Leitura naquilo que fala sobre a sabedoria. Muitas vezes a nossa compreensão de sabedoria esta relacionada às ideias que nos permitem compreender e intervir sobre a realidade que nos cerca, portanto a sabedoria como pura inteligência. Mas a sabedoria que fala o Apóstolo Paulo é de um outro tipo: é aquela que vem da cruz de Cristo e de seu sacrifício de amor. Mesmo para o mais inteligente deste mundo, dar a vida por alguém tem alguma coisa de “ilógico”, ou de loucura, algo que foge a compreensão do pensamento. Somente através do dom, da graça do Pai em nossa vida, é possível compreender e receber a sabedoria que vem de Deus. Impressionante são também as antíteses proclamadas por Jesus no Evangelho e que tem, a primeira vista, um caráter bem polêmico, a começar até mesmo pela introdução: “Vocês ouviram o que foi dito aos antigos”. Jesus se refere aqui aos que haviam recebido a Lei de Moisés no Monte Sinai. Portanto Jesus não critica o mandamento recebido, mas sim o como ele foi transmitido ao povo ao longo do tempo do Antigo Israel. A origem divina da lei é inquestionável para Jesus, mas a interpretação realizada no decorrer dos tempos, esta sim, precisa ser revista. Jesus coloca um contraponto ainda mais radical e que está mais plenamente em conformidade com o querer de Deus. O que Jesus faz ao proferir estas palavras, dentro do contexto do Sermão da Montanha, é dizer que é preciso interpretar a lei a partir de uma perfeita sintonia com o Deus da vida, isto é, a partir da misericórdia, do amor e da aliança, dimensões estas que haviam sido esquecidas pelas autoridades que interpretavam a lei. Diferente do que podemos pensar Jesus não se coloca na contramão do Deus do Antigo Testamento, mas penetrando a centralidade de cada mandamento, revela o lado mais profundo de cada um e extrai dali um sentido novo que até então não se lhe havia atribuído. O pensamento de Jesus supera o lado puramente interpretativo da letra dos mandamentos e revela o verdadeiro espírito que se faz necessário para vivê-los plenamente. Fazendo isso Jesus revela também o “rosto” verdadeiro do projeto de Deus para a humanidade. É interessante refletir no como termina o texto do Evangelho. Há neste final um apelo em favor de uma sociedade de transparência e de honestidade, pois só se pode dispensar a garantia do juramento, quando não há dúvida que todos falam e vivam a verdade na sua plenitude. Para participar da construção do Reino de Deus, vejam bem, da construção do Reino, é preciso que a nossa justiça vá mais além daquela que ouvimos falar. Ir além é o desafio para todo o cristão também nos dias de hoje. ORAÇÃO Pai, guiado pelo ensinamento de Jesus, revela-me sempre o Teu querer e livra-me de qualquer impedimento que eu possa colocar para bem saber da Tua vontade. Perdoa-me por muitas vezes, mesmo sem o meu querer, observar superficial o mandamento do amor. Faze-me sempre fiel ao verdadeiro espírito comunitário do meu ser cristão. Amém. AGIR Tome um tempo nesta semana para recordar os 10 Mandamentos e descobrir o entendimento mais profundo de cada um deles. Pe. Adilson Schio, ms
Mateus, neste texto muito conhecido e de um fácil entendimento, usa duas metáforas muito interessantes para aplicá-las aos que ouviam o que Jesus dizia naquele sermão e naquela montanha. O Evangelho de Mateus sempre enfatiza um Jesus que tem a palavra certa para o momento certo é o que Ele nos revela hoje: uma palavra certa do que devem ser aqueles que se tornam com Jesus, construtores do Reino do Pai. MEDITAÇÃO Sempre que pode Mateus enfatiza a missão de toda a comunidade cristã no mundo. Somos chamados a fazer o Reino de Deus crescer e isso deve ser feito de uma maneira sensivelmente diferente daquela que a cultura religiosa da época anunciava. Não é escondendo a luz da misericórdia de Deus que se revela o verdadeiro rosto do Senhor e muito menos não é afastando as pessoas das promessas do Reino que fará com que o povo reencontre o caminho da aliança. Deus se faz fiel e sua fidelidade está no horizonte do que Jesus apresenta neste rico e profundo discurso da Montanha. A clara intenção do Evangelista e da Liturgia deste domingo é mostrar que os discípulos devem tornar significativo e iluminador o caminho que assumem pela livre decisão de seguirem o Mestre. O sal tem ao menos três atribuições: o sal salga e por isso dá sabor; o sal penetra e por isso conserva; o sal também limpa, por isso cura as feridas. É de grande significado se refletirmos nestas três atribuições associadas à nossa vivência espiritual. A palavra de Jesus nos faz seus discípulos, porém não qualquer discípulos, mas sim seguidores de Jesus na sua proposta e nos seus gestos. Jesus é quem nos liberta, nos dá a força para sermos animados e perseverantes. O convite que Jesus nos faz ao dizer que devemos ser “sal da terra” é justamente este de jamais deixarmos que a fraqueza e a falta de esperança tomem conta de nós. O verdadeiro discípulo é aquele que com sua palavra e com seus gestos anima e “dá sabor” a vida de fé do povo de Deus. Na outra comparação, “ser luz do mundo”, há também uma tríplice atribuição: a luz clareia e por isso ilumina; a luz aquece, ao seu redor, quando está frio, sente-se a agradável sensação de calor e, a luz penetra em qualquer orifício, por menor que seja. Esse segundo convite de Jesus é de uma profundidade que deveria nos fazer cada vez mais certos de que o seguimento de Jesus está na razão do iluminar a vida das pessoas, aquecê-las nos seus momentos de “inverno” pessoal e de penetrar os seus corações com a verdadeira mensagem da esperança, da misericórdia e do amor que nos vem das palavras de Jesus. Mais do que uma passagem do Evangelho de dois mil anos atrás, esse texto bíblico deve ficar presente em nossos corações e em nosso pensamento a fim de fortalecer nossa opção cristã. A fé hoje precisa ser vivida como sal e como luz, isto é, precisa ser uma mensagem transformada em testemunho que faz a diferença em meio a tantas atitudes de morte e de falta de perspectiva como vemos hoje. Como disse o Papa Francisco na missa com os Bispos por ocasião da última Jornada Mundial da Juventude: “Não queremos ser presunçosos, impondo as “nossas verdades”. O que nos guia é a certeza humilde e feliz de quem foi encontrado, alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo e que por isso mesmo não pode deixar de anunciá-la a todos”. ORAÇÃO Senhor, Tu me chamas a viver em comunidade e queres que eu edifique, com minha vida, a vida da minha comunidade. Eu sei que Tu queres que eu seja comunhão com os outros. Senhor, eu sei também que ser comunidade é existir para os outros, por isso eu Te peço: ajuda-me a ser, em Ti e na Igreja, sal da terra e luz do mundo. Amém. AGIR Reflita nesta antífona: “Vós sois a luz do mundo. Brilhe aos homens a vossa luz e vendo eles as vossas obras, deem glória ao Pai celeste”. Pe. Adilson Schio, ms
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Pe. Adilson Schio Ms
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